
Há uns dias a Cris Hélcias falou de um tema muito pertinente. De onde saem os preconceitos sobre usar “isto” em vez “daquilo”? Será uma questão social? Cultural? Intemporal?A indústria da fast fashion faz isso na perfeição: réplicas de it things que todos adoraríamos usar, algo impensável há 100 anos.
A História diz-nos que as classes mais abastadas ditavam tendências, era uma questão de status vestir de uma certa maneira. Depois vieram as revoluções sociais, as lutas de classes, a industrialização, a democratização da moda. Como diz a Cris, hoje podemos ter um par de sapatos “igual” ao de uma marca de luxo e a um preço acessível a todos. A indústria da fast fashion faz isso na perfeição: réplicas de it things que todos adoraríamos usar, algo impensável há 100 anos.
Mas a verdade é que, ainda assim, os preconceitos vivem entre nós e a nossa forma de vestir. E vão surgindo novos: leggings não são calças, botas não ficam bem com fato de treino, camisolas não ficam bem por cima de vestidos, blazers dão um ar muito clássico, usar camisa dentro das calças é para gente magra, eu sei lá!
Na minha opinião isto vai sempre acontecer, mesmo se um dia voltarmos a andar por aí todos nus. Enfim, é cultural, é social, há coisas que até são tradição (usar roupa nova para o aniversário, para o casamento, etc). Se podemos tentar alterar isso? Sim, podemos. É nossa função, minha e de pessoas como a Cris, tentar desmitificar isso, mostrar que há alternativas e que há preconceitos relacionados com o estilo que podem “assentar” bem a qualquer pessoa. Isto sempre com respeito pelo estilo de cada um.
Será que a moda é mesmo democrática e acessível a todos?
Tudo isto para dizer que estas reflexões nos levaram a outras e que o debate é sempre bom para nos por a pensar. Será que estamos mesmo a viver numa sociedade sem classes, onde a moda é mesmo democrática, onde tudo é acessível, onde os preconceitos deixaram de fazer sentido, onde o status desapareceu?
Claro que não.
Também acho que isso não irá deixar de existir, nem na roupa nem em coisa nenhuma. Isso porque somos seres sociais e vai haver sempre a comparação, a identificação, a influência, a inspiração, algo que nos move a usar uma coisa em detrimento de outra.
Todo os influenciadores se vestem e se mostram de determinada maneira, alinhados com o seu conteúdo, e a mensagem que passam é muito forte porque está muito direcionada para um público muito específico.
Neste momento assistimos a um fenómeno que certamente ficará nos registos de história do futuro: os media sociais. Os influenciadores são, na sua génese, pessoas como nós: anónimas e que encaixam num determinado perfil. Há os fashionistas, os saudáveis, os que assumem imperfeições e fazem disso a sua marca, os empreendedores, as mães atarefadas, os especialistas em cosmética e maquilhagem, os saudáveis, os ativistas… Todo os influenciadores se vestem e se mostram de determinada maneira, alinhados com o seu conteúdo, e a mensagem que passam é muito forte porque está muito direcionada para um público muito específico. E isto é o sonho das marcas e do consumo!
Os novos ícones da cultura Pop ou os membros de uma nova Burguesia?
Hoje fala-se já do poder que esta influência pode ter nas nossas vidas. Sem dúvida de que é uma comunicação muito poderosa. Por exemplo, nas adolescentes, o impacto das influenciadoras é enorme. Em todo o lado vemos formas de vestir iguais às da Billie Eilish ou da Bárbara Bandeira. Isto equivale mais ou menos à cultura pop das revistas dos anos 80 e 90, mas agora os ídolos falam diretamente com o seu público, é possível uma interação e isso é fantástico.

Há uma grande pressão, parece que temos de nos “encaixar” em algum destes perfis, porque senão não estamos a acompanhar.
Finalmente temos a ilusão de poder estar no mesmo patamar, no mesmo nível, de igual para igual. Há produtos que esgotam em poucas horas porque alguém os usou e há toda uma comunidade que quer usar igual. Será esta a ascensão de uma nova burguesia, de um novos status social de que toda a gente quer usufruir? E isto não acontece só com os trapos, mas também com os restaurantes, os destinos de férias, os locais de culto, a tecnologia que se consome, o que se cozinha em casa, a maquilhagem que se usa… Tudo, no fundo! E há uma grande pressão, parece que temos de nos “encaixar” em algum destes perfis, porque senão não estamos a acompanhar.
Inspiração pela positiva
Vão sempre haver modelos, referências, ícones que nos vão influenciar. Mas cabe-nos a nós todas ter massa crítica e questionar o que é o melhor para nós, o que nos faz sentir bem. Essa análise é fundamental em tudo e é uma forma de vivermos alinhados com o nosso estilo de vida, com os nossos objetivos, tudo de forma equilibrada.
Temos de repensar o nosso consumo, a nossa forma de cuidar das nossas roupas, da nossa imagem, do nosso cantinho, do nosso eu. Aprender a rentabilizar o que temos e não partir para o consumo desenfreado ao primeiro impulso. E procurar nos outros uma inspiração pela positiva, que não nos cause frustração por não poder usar as mesmas coisas ou a ir aos mesmos lugares, mas que nos ensine a adaptar o que temos e a investir no que for necessário dentro das nossas possibilidades.
Penso que este é, sem dúvida, um dos grandes desafios da sociedade atual e da nossa geração.
SOFIA DEZOITO FONSECA
Consultora de Imagem e Fundadora do Healthy Project
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