A Mafalda tinha de ser a primeira modelo e entrevistada do Healthy Project. Pela sua motivação, foco e empenho. Pela sua personalidade forte e determinada, que nunca a deixa dizer não a um novo desafio.
E, claro, pela sua amizade.
Nutricionista, blogger e empreendedora, a Mafalda é defensora de um estilo de vida mais sustentável, desde aquilo que se come àquilo que se veste. Foi na Quinta Pedagógica dos Olivais que fotografamos o nosso editorial, apenas com marcas de origem nacional e com um cenário rural no meio da cidade.
Camisa Naz | Calças Naz
O que te transmite este espaço onde fotografamos?
Muita paz, nem parece que estamos no meio de Lisboa! Adoro este bocadinho de campo aqui na minha cidade. Sou lisboeta de gema, a minha família está cá há muitas gerações. E este contacto com os animais do campo, o jardim, a quebra do barulho e das rotinas sabe muito bem.
Estamos numa quinta. A tua infância teve uma grande conexão à natureza, verdade? Isso espelha-se no teu trabalho hoje em dia?
Sim, passei uma grande parte da minha vida numa quinta de família no Cartaxo, perto de Santarém. Tínhamos vários tipos de animais e cresci com um grande contacto com a natureza, a terra e os meios mais simples. Creio que isso me faz procurar um estilo de vida e de compra mais sustentável.
Casaco Naz | Calças Naz
“Sinto que somos extremamente consumistas e é preciso mudar um pouco chip”
As marcas que usas nesta sessão são todas Made in Portugal e foram todas uma sugestão tua. És uma pessoa preocupada com as origens e com as escolhas dos materiais? Porquê estas escolhas?
Sim. Primeiro, porque acho importante fazermos crescer os nossos. E em Portugal há marcas fantásticas, com ótima qualidade. Depois, porque sinto que somos extremamente consumistas e é preciso mudar um pouco o chip e procurar materiais mais amigos do ambiente, ou mesmo materiais reciclados. É preciso reduzir os resíduos que fazemos, reutilizar o que ainda pode ter uma nova vida. Comecei por ser muito assim com móveis e objetos de decoração que adoro recuperar, e sinto que, com o tempo, tenho começado a ter também esta perspetiva com a roupa.
Procuras que as tuas escolhas de consumo sejam mais conscientes?
Sim, muito. Por exemplo, gosto de comprar em lojas de comércio local em vez de grandes cadeias, prefiro comprar a granel, escolho quintas de produção biológica perto de Lisboa para reduzir a pegada ecológica, como sempre ovos de galinhas de campo e carne do campo e por aí fora.
“Há mitos e entraves em todo o lado, seja porque há falta de conhecimento ou porque é muito fácil acreditar que uma alimentação saudável é mais cara”
Casaco Naz | Calças Naz
Qual o maior desafio enquanto nutricionista?
Desmistificar! Desde as equipas médicas, aos locais de compra, e até aos métodos de confeção. Há mitos e entraves em todo o lado, seja porque há falta de conhecimento ou porque é muito fácil acreditar que uma alimentação saudável é mais cara. O meu principal desafio é fazer com que todas as pessoas nesta cadeia possam acreditar que uma alimentação saudável é possível, simples e fácil de aplicar, quer se viva sozinho ou em família, quer se viaje muito ou pouco ou quer se tenha algum tipo de patologia ou não.
Como é ser nutricionista e blogger? É difícil hoje em dia fazer projetos credíveis com tanta gente nesta área?
Acho que já foi mais difícil, mas ainda é um pouco desconsolador. Hoje em dia sinto que as pessoas já começam a saber filtrar mais de onde vem a informação. Há inúmeros apaixonados por alimentação saudável a influenciar opiniões, mas que não possuem conhecimento de base sobre nutrição. E estas situações podem ser muito perigosas, sobretudo se esses influenciadores forem pessoas extremistas, que eliminam radicalmente alguns alimentos ou incluem outros em demasia. Mas confesso que nunca senti que isso fosse um entrave à minha credibilidade. Sinto que as pessoas me associam à imagem da Nutricionista e isso, só por si, já me chega.
Casaco Naz | Camisa Naz
“Conseguimos mudar o foco das mulheres para a sua saúde e isso é uma motivação muito maior que um par de calças com o número abaixo”
A maior parte das pessoas que te procuram são mulheres. Quais as questões que mais te fazem?
Perguntam-me sobretudo como melhorar a alimentação que têm para evitarem as dietas constantes. Mas num contexto de consulta é interessante ver que há sempre mais questões de saúde a melhorar do que propriamente questões estéticas. E, para mim, essa é a parte mais gratificante. Conseguimos mudar o foco destas mulheres para a sua saúde e isso é uma motivação muito maior que um par de calças com o número abaixo. Recebo imensas mulheres com problemas intestinais que lhes causam inflamações, nomeadamente celulite. Quando tratamos essa parte primeiro, acabamos por conseguir diminuir a celulite também. E isto acontece em inúmeras situações.
Infelizmente, começo também a receber muitas pessoas com problemas oncológicos e doenças autoimunes. Do ponto de vista nutricional, para mim, são sempre casos interessantes, mas requerem uma entrega e disciplina grandes por parte de quem tem que seguir os novos hábitos.
No fundo, também trabalhas a imagem das pessoas, mas do ponto de vista nutricional e de dentro para fora. É fundamental uma pessoa ter uma alimentação equilibrada para se manter bem consigo mesma? Qual o maior desafio nesta área?
O maior desafio que eu sinto é satisfazer em pleno alguém. E não é que seja o meu foco, não me preocupo com isso porque é algo que não consigo controlar. Mas a verdade é que as pessoas nunca estão satisfeitas. Saltam de dieta em dieta à espera que exista uma que seja a milagrosa e que as vai por a comer o que lhes apetece mantendo a figura ideal. E isso não acontece. Todos os anos as resoluções são as mesmas, é um ciclo vicioso e tonto. É difícil convencer alguém que, para toda a vida, se comer de forma equilibrada, manterá o peso, e terá apenas que fazer pequenos ajustes de vez em quando.
Vestido Atelier Fusion
“Olhar para um corpo bonito numa rede social pode causar tanto sentimentos de motivação como de auto repreensão. Mas um corpo bonito também pode esconder um distúrbio alimentar ou uma vida pouco realizada”
Existe uma grande pressão para ter o corpo perfeito, comer o que aparece nas redes sociais e estar sempre a par do último ingrediente da moda. Como lidas com esses fenómenos?
Sou muito atenta ao que se passa e se consome e como se fotografa, até porque sigo inúmeras páginas de foodies e de estilo de vida saudável. Mas acabo por ser muito alheada das tendências e das pressões. Sempre achei que andar sempre a ver o que os outros fazem nos limita a criatividade, sobretudo no que toca a comida, por isso tento inspirar-me, mas fazer sempre algo diferente. Olhar para um corpo bonito numa rede social pode causar tanto sentimentos de motivação como de auto repreensão. Vejo isso pelas consultas e pelo que os pacientes me dizem constantemente. Mas um corpo bonito também pode esconder um distúrbio alimentar ou uma vida pouco realizada. Acho que é importante olharmos para isto tudo sempre com um filtro. Não há vidas perfeitas, todos temos que nos esforçar para comer bem e ter um corpo bonito e saudável. Uns mais do que outros, mas acho que isso acontece em tudo na vida.
Qual a importância da comida na tua vida? Privaste de muitas coisas?
A comida é a minha base. Por algum motivo tenho sempre a cabeça a pensar em comida e em combinações de sabores que quero experimentar. Quando vejo receitas e fotografias de comida parece que me surgem mil ideias de “isto ficava mesmo bem com aquilo, e se alterasse este ingrediente e pusesse aquele ficava espetacular”. Às vezes, confesso, que me abre uma certa gula ter este tipo de pensamento, mas é divertido! Não me privo de nada, mas tenho o azar de ser alérgica ao leite. Tenho imensas saudades de queijo e é o meu maior desgosto alimentar. Mas não me lembro propriamente disso no dia a dia. Só em situações particulares de provas ou jantares de família em que me põem um queijo da serra fantástico à frente…
Como selecionas as tuas compras?
As minhas compras são muito influenciadas pela estação do ano. Como compro sempre legumes e fruta biológicos, as receitas andam à volta do que há na estação. Agora no frio uso imenso abóbora, batata doce, espinafres, grelos, laranjas e frutos secos.
“Trabalhar no que gosto permite-me ter um gozo profissional enorme, e juntar o dinheiro que preciso para viajar. O que mais poderia pedir?”
Vestido Atelier Fusion
Botas e sapatos Green Boots
Tens três livros publicados, um blog, trabalhas por conta própria. O que é que ainda te falta fazer?
Falta-me correr o mundo. Do ponto de vista profissional fui fazendo um ninho muito confortável. Tem custado imenso, mas a verdade é que as coisas chegam, o trabalho flui, e tenho conseguido aumentar a minha equipa e trabalhar no que mais gosto. Mas o que eu mais adoro é viajar, conhecer pessoas, provar comidas diferentes, fotografar, relaxar. E sinto que isso é capaz de ser a maior razão para saltar da cama todos os dias. Trabalhar no que gosto permite-me ter um gozo profissional enorme, e juntar o dinheiro que preciso para viajar. O que mais poderia pedir?
Adoras praticar desporto. Qual a tua maior motivação?
Sentir-me saudável e em forma. E, como sempre pratiquei desportos de competição, motiva-me imenso competir comigo mesma. Correr mais 1 km do que antes, ou demorar menos 1 minuto para fazer aquela distância, ou ser capaz de fazer aquele exercício que antes nunca fazia.
Casaco Green Boots | Vestido Green Boots
Vestido Green Boots
De onde vem a tua energia? És uma pessoa muito focada?
Sou extremamente metódica e pontual e acho que isso me faz sentir bem. Sempre que fujo às minhas rotinas e práticas diárias sinto-me menos organizada, parece que durmo pior e não me sinto tão energética. Se dormir bem, conseguir fazer o meu exercício matinal e comer bem ao longo do dia, sinto-me logo preparada para enfrentar todos os desafios.
Qual a melhor dica nutricional que podes dar a quem lê esta entrevista?
Creio que será fazer as pazes com a comida. Podia falar de alimentos específicos mas, sinceramente, acho que a base de uma alimentação saudável é comer de tudo, de forma consciente, sem compulsões ou repreensões. Sentirmo-nos sob o controlo das nossas próprias escolhas permite-nos comer algo mais calórico porque nos apetece e saber como compensar no momento seguinte, sem stresses ou irritações.
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