
Sou defensora do comércio nacional e local. Quem me conhece sabe que as minhas compras diárias são feitas no mercado de sábado, na padaria lá da rua, na mercearia do bairro. Gosto dessa dinâmica.
Quando estalou a pandemia também acabei por estender essa forma de comprar a outras áreas, como é o exemplo da roupa para criança. Não queria estar a deslocar-me para grandes espaços comerciais e comprar online não me inspirava confiança (precisava do primeiro par de sapatos para a minha filha, tinha mesmo de experimentar). Então comprei nessa altura em algumas lojas locais, um pouco mais caras, mas com atendimento 5 estrelas e oferta de muita qualidade.
No meu caso específico, não tenho feito grandes compras. Roupa de verão é o que não me falta! E tirando uma ou outra coisa que precisava mesmo, não investi em nada. Aí as lojas locais também são uma excelente opção. Tenho várias perto de casa, uma delas até com roupa 100% nacional, de marcas giras e com muito bom gosto. Mas há um problema. O preço.
Um drama dos tempos modernos
Tenho falado muito deste tema com várias amigas e pessoas conhecidas e é, de facto, um drama dos tempos modernos. Todos queremos fazer escolhas mais conscientes, mais justas, mais equilibradas para nós e para o planeta. Também já falei um pouco disto aqui. Tenho um grupo de amigas que, entre nós, só nos presenteamos com marcas portuguesas, fazemos questão! Como somos várias a dar a uma única pessoa, não traz grande problema para a carteira. Mas este mesmo grupo de amigas tem também agora vidas diferentes, com maior responsabilidade, bebés a caminho ou crianças pequenas, e mesmo tendo possibilidades, o dinheiro não estica.
Dizem-me muitas vezes, “Sofia, tu aconselhas sempre comprar nacional, mas já viste os preços desta e daquela marca? São caríssimas!”. E são mesmo. Pelas razões que já todas sabemos e que obviamente compreendemos: mão-de-obra qualificada, fabrico em pequena escala, matérias-primas de maior qualidade. Muitas destas empresas só têm uma ou duas pessoas a trabalhar, não é possível termos o mesmo preço final de uma t-shirt da Zara. Falo por experiência própria, pois há uns anos tive a minha marca de acessórios vegan e 100% nacional. E sim, as coisas não eram baratas.
Por outro lado, também considero que muitas marcas portuguesas praticam preços elevados, acima do que certamente poderiam cobrar, mas isso já é outra questão: posicionamento da marca! Essas marcas estão posicionadas para um determinado segmento, consideravelmente mais alto, e são estratégias, está tudo bem! No mundo da “fast fashion” isso também acontece.

Não podemos ir a todas. Ou podemos?
O que eu defendo, acima de tudo, é fazermos o nosso melhor diariamente, para comprar de forma o mais consciente possível. Mas isso também implica fazer escolhas. Não consigo comprar sempre tudo no comércio local, também vou ao supermercado. Não consigo comprar tudo ecológico ou biológico, também compro outras coisas. Não consigo poupar em tudo, de vez em quando também faço uma extravagância ou compro sem ter necessidade. Não consigo comprar sempre nacional, por causa do preço ou porque simplesmente prefiro outra coisa.
Se vou continuar a consumir Zara (leia-se indústria da fast fashion, no geral)? Vou. O meu armário tem imensa roupa oriunda de marcas do género, mas todas elas com muito uso já, posso garantir. E estão boas e gosto delas, pelo que não vou descartá-las. A roupa da minha filha é quase toda em segunda-mão, passa de amiga em amiga, e a maior parte também foi comprada em lojas do género. Ao estar a reutilizar estou a minimizar o impacto ambiental e estou a poupar. Se precisar de comprar novo vou considerar primeiro marcas portuguesas, que possam ir ao encontro daquilo que procuro e ao preço que posso pagar naquele momento.
Estabelecer prioridades
O comércio local vai continuar a ser prioridade para o dia-a-dia e acho que todos devíamos começar por aí, pelos nossos vizinhos, por quem vive perto de nós. E, antes disso, pela nossa casa. O que podemos rentabilizar, reutilizar, usar mais vezes e de diferentes formas? Esta é a minha maneira de ver as coisas, tanta na consultoria de estilo, como na consultoria de interiores, e quem já solicitou os meus serviços sabe que sou a favor da poupança e rentabilização das peças.

Infelizmente não podemos ir a todas (ou podemos, há quem o faça, os verdadeiros minimalistas que vivem com o desperdício de um ano dentro de um frasco), mas sabemos que essa não é a realidade da maior parte das pessoas. Tudo é feito de escolhas, mas nem tudo é mau e nem tudo é bom. Sou pelo sustentável, mas sobretudo pelo equilíbrio na nossas vidas.
E vocês, como gerem estes temas? Pensam nisto? Estas questões fazem parte do vosso dia-a-dia? Quero saber!
SOFIA DEZOITO FONSECA
Consultora de Imagem e Fundadora do Healthy Project
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