O nosso armário diz muito sobre nós. Ele conta-nos histórias, guarda memórias, afetos, paixões, dúvidas, seguranças e incertezas. É por esse motivo que o ato de destralhar nem sempre é fácil, pois exige de nós alguma energia e uma boa dose de autoconhecimento.
Se nos conhecermos bem, soubermos as nossas necessidades atuais e o que queremos comunicar quando nos vestimos, o processo de destralhe torna-se mais fácil. O apego é muitas vezes o que nos prende às roupas e ao significado que elas podem conter. “Quem me deu esta peça foi a minha mãe”, “usei esta roupa no meu primeiro dia de trabalho”, “estes sapatos custaram-me um dinheirão”, “vou voltar a caber nesta roupa”, “para o ano pode voltar a estar na moda…” – estas são algumas das frases que mais ouvimos na hora de enfrentar a organização do roupeiro.
A quantidade de peças que temos pode dificultar o processo de destralhar roupa
Claro que quanto mais roupa tivermos, mais difícil se poderá tornar todo este processo, mas esse é só mais um fator que pode pesar na altura de enfrentarmos o destralhe. A maioria das pessoas pensa que este é o fator principal: ter muita roupa. Mas sem dúvida que o correto é acrescentar: ter muita roupa que não se usa. Ter “muita” ou “pouca” é relativo e pode variar em função da personalidade e dos objetivos de vida de cada pessoa.
Hoje em dia fala-se muito de armário cápsula e de armário funcional e são conceitos que nos podem realmente facilitar a vida e ser a cereja no topo do bolo no final de um bom processo de destralhe. Já pensou o que seria ter um armário em que todas as peças combinassem perfeitamente entre si, em que todas elas estivessem bem visíveis e fossem fáceis de identificar, que tivessem todas bom ar e que a vontade de as usar a todas fosse imensa? Parece um sonho, mas é uma realidade perfeitamente atingível se nos dedicarmos a olhar para o que temos e o fizermos de forma realista.
Mudança de estação e o processo de destralhe
Será a mudança de estação a altura ideal para praticar o desapego e destralhe do seu armário? Na maioria dos casos sim, porque é nesta altura que temos necessidade de arrumar a roupa da estação passada (neste caso roupa de inverno: malhas grossas, casacos e sobretudos quentes, botas e calçado mais fechado) e dar lugar às peças mais frescas de primavera e, posteriormente, à roupa de verão.
Neste tipo de transição somos “obrigados” a avaliar o estado da roupa e a tomar decisões sobre se fica ou se vai embora. No entanto, cada vez mais vemos que os armários podem ser intemporais e atemporais, ou seja, o mais funcionais possível e que permitam o uso das suas peças em praticamente todas as estações.
Como destralhar e organizar o nosso armário em 5 passos:
Simplificar é a palavra de ordem num processo dedestralhe e arrumação de roupa. Devemos ser honestos connosco e ter em mente o que queremos comunicar com a nossa imagem. Tendo isso em consideração será sempre mais fácil tomar decisões.
- Observação. O ato de observar é muito importante no processo de destralhe. Olhe para o seu armário como se fosse a primeira vez e com olhar crítico. A melhor forma de o fazer é tirar tudo dos cabides e das gavetas e colocar em cima de uma superfície plana (pode ser a sua cama, por exemplo). Observando a partir de cima terá uma overview de tudo o que tem.
- Criar Secções. Ao colocar a roupa para observação, deve fazê-lo por secções ou categorias. Por exemplo: todas as partes debaixo primeiro (calças, saias, etc.), depois as partes de cima, depois os vestidos, os casacos, os acessórios e por aí fora.
- Seleção Natural da Espécie. É hora de saber quais as peças, dentro de cada categoria, vão sobreviver ao ecossistema do seu armário. Porquê «seleção natural»? Porque ao olhar para cada uma delas irá saber, dentro de si, o que fica e o que não pode continuar. No fundo já sabe a resposta, só tem de ouvir o que o seu coração lhe diz.
- Análise. Está na hora de analisar o que ficou. É bem provável que continue a ver algumas peças que estão paradas. Gosta delas e na sua cabeça há sempre desculpa para as usar novamente. Porque vai voltar a estar na moda, porque são boas para as férias, para andar por casa ou para ir a um evento qualquer. Nesses casos opte por guardá-las numa caixa, longe das restantes peças selecionadas, e na próxima mudança de estação veja quantas vezes foram usadas e faça nova avaliação.
- Novas Conjugações. Tudo OK com as suas justificações, não devemos ir contra o que nos faz sentir bem e seguros. Lembre-se sempre: tem de estar feliz com as suas escolhas e com o que tem no seu armário. Agora, se escolheu deixá-las ficar, vai ter de lhes dar uso e criar novas conjugações. O ideal será que cada peça seja conjugável, pelo menos, com outras três.
Faz sentido adquirir roupa nova?
Saberá no final do destralhamento. Há peças que podem ter sido postas de lado porque já estavam gastas ou com sinais de muito uso (acontece muito com camisas e t-shirts, principalmente de cor branca ou preta/azul-escura). Nesse caso faça uma lista das suas necessidades (sim, uma lista como se fosse ao supermercado) e dê uma ordem de prioridade a cada um dos itens que precisa de adquirir. É muito importante que essa lista seja construída com base no que fica no seu armário, para que as novas peças sejam de fácil conjugação e tragam ao seu guarda-roupa a versatilidade de que ele necessita.
Quando compramos algo novo devemos ter sempre em conta o uso que vamos dar àquela peça. É natural que os nossos gostos e o estilo pessoal mudem em função dos nossos objetivos e estilo de vida, mas ao organizarmos o nosso guarda-roupa de forma mais eficiente estamos a contribuir para um dia a dia mais funcional e para uma autoestima renovada.
SOFIA DEZOITO FONSECA
Consultora de Imagem e Fundadora do Healthy Project
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